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Questão 935 de O Livro dos Espíritos – Parte 01

935 – Que se deve pensar da opinião dos que consideram profanação as comunicações com o além-túmulo?

“Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada com respeito e conveniência. A prova de que assim é tendes no fato de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer ao vosso chamado. Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanação se isso fosse feito levianamente.”

A possibilidade de nos pormos em comunicação com os Espíritos é uma dulcíssima consolação, pois que nos proporciona meio de conversarmos com os nossos parentes e amigos que deixaram antes de nós a Terra. Pela evocação, aproximamo-los de nós; vêm colocar-se ao nosso lado, nos ouvem e respondem. Desse modo, cessa, por bem dizer, toda separação entre eles e nós. Auxiliam-nos com seus conselhos, testemunham-nos o afeto que nos guardam e a alegria que experimentam por nos lembrarmos deles. Para nós, grande satisfação é sabê-los ditosos, informar-nos, por seu intermédio, dos pormenores da nova existência a que passaram e adquirir a certeza de que um dia nos iremos a eles juntar.

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O que devemos pensar daquela opinião? É do que trata a pergunta 935 de O Livro dos Espíritos, a opinião objeto da pergunta é a opinião que considera as comunicações com os Espíritos algo profano, ou seja, as almas do mortos é coisa para se ter respeito e essa opinião considera desrespeito eles se comunicarem conosco ou comunicarmo-nos com eles. Interessante observar que a pergunta não entra no mérito de quem iniciou a comunicação, o que importa na pergunta é que a comunicação é estabelecida entre vivos e mortos, esse é o ponto que naquela opinião já é algo para se ficar chocado porque “onde já se viu esse tipo de coisa”.

Certamente, à época havia uma maior parcela da sociedade que de dentro das suas convicções e preconceitos não podia admitir tal possibilidade, a resposta dada fala com eles e se mantém para os que hoje em dia pensam de igual maneira, mas o que chama atenção é que a resposta a essa pergunta também fala com alguns espíritas. Quais espíritas? A resposta fala com os espíritas que partilham em parte dessa opinião, não com os espíritas daquela época, mas com os da atualidade.

E por que não compartilham completamente dessa opinião? Porque eles admitem a comunicação com o além-túmulo, até aqui é o mínimo que se espera que o espírita admita, entretanto o que é causa de certa estranheza, às vezes com ares de proibição é a chamada evocação. Por mais incrível que possa parecer há espíritas que de certo modo partilham da ideia de que evocar os Espíritos é algo que não se deve fazer, eles dão a essa prática um tal tom que faz a coisa soar quase que como sendo sobrenatural.

Pois muito bem, a resposta dada à pergunta alcança os que assim pensam pois que diz “Não pode haver nisso profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada com respeito e conveniência”, vejam que curioso! Os Espíritos explicam que a evocação não tem nada de profana. Não pode haver profanação nisso(na comunicação dos mortos) quando feita com recolhimento e quando praticada com respeito e conveniência.

Vamos desdobrar essa colocação para ver se se pode entender de outra forma que não seja esta que está posta com toda clareza pelos Espíritos: toda e qualquer comunicação com os Espíritos para que não seja mal utilizada(ou profanada) necessita que haja recolhimento, respeito e conveniência. Primeiro vale dizer que o ato de recolhimento é um termo que, devido sua importância para as comunicações espíritas, assume um caráter técnico a partir de todos os ensinos dados pelos Espíritos a respeito, o entendimento dado pelos Espíritos sobre recolhimento vai muito além do simples ato de voltar-se a si mesmo, com tranquilidade, atenção e foco, envolve também a disposição enérgica, mas serena dos pensamentos para um determinado fim(vale a pena pesquisar sobre o tema nas obras de Allan Kardec). Mas continuemos ainda sobre o que dizem os Espíritos quanto ao respeito e a conveniência. Não sendo inconveniente, inoportuna ou incomoda pois é possível que ela seja causa de distúrbio e arruaça; e não sendo feita com baldeação ou zombaria, como um passatempo ou um divertimento, não sendo feita “de qualquer jeito”, improvisadamente despropositada, por assim dizer; não terá nada de profana, não terá nada que deva ser evitado porque errado. Isso vale para as comunicações em geral como também vale, e a resposta faz questão de destacar, para a evocação.

E a resposta dos Espíritos nos indica quando é que a comunicação de além túmulo, seja evocação ou não, é bem feita pois que cômoda, conveniente e oportuna. “A prova de que assim é tendes no fato de que os Espíritos que vos consagram afeição acodem com prazer ao vosso chamado.” Atentem para o que é dito no final da frase “acodem com prazer ao vosso chamado” destaque dado para a evocação já que por definição evocar é chamar e só se chama, evocando.

O arremate da resposta é dado pela seguinte frase: “Sentem-se felizes por vos lembrardes deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanação se isso fosse feito levianamente”. A comunicação de além-túmulo, a evocação, quando nobre e digna causa felicidade para os que partilham dessa comunhão espiritual através de um meio de comunicação viável que é a mediunidade. “Haveria profanação se isso fosse feito levianamente.” Seria indigna, torpe, passível de reprovação se feita irresponsavelmente. Aí está toda a diferença.

E daí podemos concluir que a comunicação entre vivos e mortos, seja intencionalmente provocada por parte dos Espíritos seja propositadamente iniciada pelos homens, tanto faz; essa comunicação em si mesma não é nem certa nem errada enquanto possibilidade, não é sagrada ou profana a oportunidade de comunicação em si, o que dignifica ou não é a maneira como o ato é praticado, as condições em que se realiza, o propósito que se busca com ele, o respeito às condições favoráveis para as boas comunicações. A coisa seria desrespeitosa se praticada desrespeitosamente. A possibilidade de profanação não está no quê, mas no como; não na coisa em si, mas na postura assumida ao praticá-la.

P.S.

Por enquanto, detenho-me a resposta que os Espíritos deram, em próxima postagem vou escrever sobre o comentário de Allan Kardec. O comentário dele merece toda uma reflexão pelas nuanças do pensamento espírita que traz embutido.