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Brasil Kardec Ignorado

A Bíblia como livro sagrado dos Espíritas

A Bíblia é o livro sagrado dos Espíritas? Não. Por que a Bíblia não pode ser o livro sagrado dos Espíritas? Vejamos.

Kardec sempre apresentou o Espiritismo como “um terreno neutro sobre o qual todas as opiniões religiosas se podem encontrar e dar-se as mãos”, nesse texto(1) Kardec explica porque as reuniões espíritas não podem adotar práticas exteriores de cultos religiosos e nem discutir os dogmas de cada crença sob pena de ferir a consciência alheia. Claro, que isso parte do princípio que ninguém é obrigado a abrir mão da sua convicção religiosa pessoal para se tornar espírita. 

O católico pode continuar católico e ser espírita, o evangélico não precisa abandonar sua religião para ser espírita; isso também vale para judeus e muçulmanos. Ninguém precisa deixar suas preferências de culto para ser espírita. Entendido isso, voltemos a bíblia. 

Se Kardec nesse texto(1) não recomenda que o Pai Nosso seja proferido nas reuniões, justamente para não dar preferência a uma religião, é claro que o texto sagrado de uma também não pode prevalecer sobre as outras. 

Na reunião espírita, se os cristãos rezam o seu Pai Nosso, um muçulmano poderia muito bem se ajoelhar para a prática da oração conforme sua religião. Se os cristãos reivindicam a Bíblia como livro sagrado do Espiritismo, um muçulmano ficaria muito chocado por não levarem em conta a sabedoria do Alcorão.

É claro que é difícil abstrair os ensinos morais do Cristo do Cristianismo, mas essa é a proposta do Evangelho segundo o Espiritismo(2). Tudo que é relacionado ao Cristo acaba sendo mais interessante aos espíritas, uma vez que ele é a grande referência moral indicada pelos Espíritos. E o interesse de cada um no contexto histórico e social no qual Jesus viveu varia de acordo com nossas afinidades. Vale dizer que muitos espíritas ainda leem a Bíblia imaginando Jesus, loiro de olhos azuis. 

De um modo geral o Cristianismo e a cultura ocidental nos proporcionam maior familiaridade com as Escrituras. Não é à toa que Kardec passa o raio-x espírita para explicar melhor certas passagens que, sem o conhecimento do Espiritismo, teriam continuado no domínio do maravilhoso e do sobrenatural. Kardec, mais de uma vez, fala(3) sobre a possibilidade de fazer uma coletânea de fatos espíritas encontrados em obras antigas. Fica clara a intenção de levantar estudos tais como os feitos em A Gênese, no qual ele diz na introdução: “Conforme seu título o indica, tem ela por objeto o estudo dos três pontos até agora diversamente interpretados e comentados: a Gênese, os milagres e as predições, em suas relações com as novas leis que decorrem da observação dos fenômenos espíritas”.

  1. Viagem Espírita em 1862 » Instruções particulares dadas aos grupos em resposta a algumas das questões propostas » XI
  2. O Evangelho segundo o Espiritismo » Introducão » I – Objetivo desta obra 
  3. Revista Espírita 1861 » Dezembro » Organização do Espiritismo – Item 24