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Não tem médium, e agora? – parte 4

O artigo de Kardec sobre a escassez de médiuns continua nos dizendo o seguinte:

Dominada a lição, sua tarefa está acabada e a nossa principiada: a de trabalhar naquilo que nos foi ensinado, a fim de melhor compreendermos e de melhor apreendermos o seu sentido e o seu alcance.

Trabalhar naquilo que foi ensinado, pensar, refletir, amadurecer o ensino dos Espíritos a fim de que ele seja assimilado, sobretudo se se tratar de questões relativas às virtudes cristãs, à correção de caráter, à mudança de conduta. A nossa maior necessidade enquanto espíritas é nos dedicarmos, principalmente, à aplicação dos ensinos morais. Aí é que está o fim essencial do Espiritismo, se perdemos de vista esse objetivo não aproveitaremos muito do contato com os Espíritos, suas comunicações e os seus ensinos.

Esse objetivo fica de lado quando nos contentamos com as belas palavras contidas nas comunicações, quando ficamos na superfície delas. Allan Kardec chama de Espíritas Imperfeitos os que não apreendem as consequências morais dos fenômenos espíritas.

Enquadra-se nesse perfil os quem anseiam por comunicações mediúnicas apenas para delas se vangloriar como se fossem um privilégio, satisfazem-se com o prazer de recebê-las, mas sem delas tirar qualquer proveito. Assim aqueles que desejam belas mensagens, quase sempre não se atentam sobre a necessidade de compreender o ensino dos Espíritos a partir de uma reflexão amadurecida. Refletir sobre o conteúdo da mensagem, mais do que se prender a sua forma, inclusive é o que nos permite distinguir o joio do trigo. Porque se sabe que é justamente através da beleza do ensino moral que se conquista a confiança das pessoas. Por meio do palavrório dos Espíritos alguns Espíritas incautos se deixam levar para qualquer lugar e geralmente esse lugar é distante de Allan Kardec.

É a fim de nos deixar o tempo livre para cumprirmos o nosso dever ─ permitam-nos a expressão clássica ─ que os Espíritos suspendem, por vezes, as suas comunicações. Bem que eles nos querem instruir, mas com a condição de que lhes secundemos os esforços. Eles se cansam de repetir incessantemente, mas inutilmente, a mesma coisa. Eles advertem. Se não são ouvidos, retiram-se, a fim de termos tempo para refletir.

Lembremo-nos do contexto destes conselhos de Allan Kardec, sua orientação visa o desenvolvimento das reuniões espíritas, principalmente, as familiares ou particulares. O problema da falta de médiuns acaba por gerar um problema de comunicação com os Espíritos que frequentam as reuniões. Sem médiuns, sem comunicações, no entanto, Kardec chama atenção para a necessidade de fazer valer cada comunicação recebida.

Se se dispõe de poucos médiuns, o importante não é a quantidade e nem a variedade de comunicações, mas o bom proveito do que se obtém. Os Bons Espíritos moderam seus conselhos e ensinos à medida que veem que são bem aproveitados. Logo, a grande quantidade de médiuns não é o objetivo da reunião assim como a grande quantidade de mensagens recebidas também não deve ser, pois não se trata de volume, mas de valor. E valoriza-se uma comunicação extraindo-se dela tudo o que possui de proveitoso, desconsiderando dela tudo o que tem de inútil. Além do mais é preciso aliar sempre a escala espírita a esse estudo, sem ela, o trato com os Espíritos se torna ainda mais nebuloso. Ainda que se esteja bem assistido pelos Bons Espíritos é preciso compreender que entre elas há uma gradação que é preciso distinguir. Por isso a escala espírita é útil em todos os casos. E sua utilidade só faz sentido se se estuda as comunicações dos Espíritos. 

Seja lá qual for a categoria a que pertença o Bom Espírito uma coisa que não se pode perder de vista é que ele não insiste, nada impõe. Somente os Espíritos Imperfeitos são impositivos. Como disse Kardec em seu texto “os Bons Espíritos querem nos instruir”, mas se não são levados a sério não nos obrigam a nada. Deixam-nos com nossos escolhas morais e intelectuais. Isso não quer dizer que nos abandonam. Só nos falta a disposição para ouvi-los e ao ouvi-los, compreendermos; e ao compreendermos, nos modificarmos.

Os Bons Espíritos jamais se cansam de ensinar a quem quer aprender, secundam todos os esforços morais verdadeiros. Como dizem os Espíritos Santo Agostinho e São Luís na mensagem sobre os Anjos da Guarda “Não temais fatigar-nos com as vossas perguntas. Ao contrário, ficai sempre em contato conosco, pois assim sereis mais fortes e mais felizes.” É importante termos essa relação sempre em mente: quando queremos nos transformar, como verdadeiros espíritas, então os Bons Espíritos nos ajudam nesse sentido. De outro modo pensa-se que a relação com os Bons Espíritos somente é coisa para missionários, nada disso. Kardec indica que os espíritas sinceros devem fazer valer cada comunicação como assunto de estudo. Estudo doutrinário, estudo moral ou seja estudo de si mesmo. Por esse caminho é que Kardec desenvolve seus conselhos a respeito da falta de médiuns, nos próximos textos continuaremos a explorar outros detalhes do que ele nos diz. Continua…