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Kardec acreditou que era um missionário! – parte 2 (Minha Resposta ao Morel Felipe Wilkon)

Morel Filipe Wilkon publicou um vídeo em seu canal intitulado “Kardec acreditou que era um missionário”, nós já demonstramos alguns erros e distorções que esse vídeo possui. Dividimos o seu conteúdo para que fique clara a tentativa de se criar uma imagem de Allan Kardec que não condiz com a realidade. Apesar de Morel Filipe dizer que se baseia nos fatos, o que nós vimos no primeiro post que fiz, e vamos ver isso acontecer de novo nesta segunda parte, é que somente interessa para Morel os fatos que servem para construir sua narrativa, os outros que a contradizem, ele omite, ele não comenta.

O nosso trabalho qual foi? De transcrever tudo o que Morel Filipe diz eu seu vídeo a fim de poder mostrar com clareza os erros cometidos. A segunda parte que vamos analisar agora diz respeito ao que Morel começa dizer a partir de 2 minutos e 4 segundos e termina aos 13 minutos e 2 segundos.

Nessa parte ele vai relacionar os fatos descritos no Livro Obras Póstumas que dizem respeito a iniciação de Kardec.

Como já dissemos somente os fatos que interessam para a construção de sua narrativa é que são citados, alguns até de forma incompleta. Vejamos o que Morel fala em seu vídeo:

Morel – no artigo chamado a minha primeira iniciação no espiritismo, está no livro obras póstumas. Kardec conta a maneira como ele conheceu o espiritismo. Kardec ouviu falar pela primeira vez no fenômeno das mesas falantes em 1854 através do Sr. Fortier. É importante lembrar que tanto o Sr. Fortier quanto Kardec eram magnetizadores, nessa época Kardec se dedicava ao magnetismo há mais de 30 anos.

No ano seguinte 1855 o Sr. Fortier levou Kardec até a casa da  Sra. Roger, que era sonâmbula, magnetizada pelo Sr. Fortier, ou seja, ela entrava em transe sonambúlico provocado pelo Sr. Fortier. Na casa da Sra. Roger, Kardec conheceu a Sra. Plainemaison na casa da qual se realizava algumas experiências espíritas, e então Kardec passou a frequentar a sua casa. E Kardec nos diz que considerava essas reuniões muito fúteis, mas na casa dela ele teve a oportunidade de conhecer a família Baudin. E logo ele começou a participar da reuniões na casa do Sr. Baudin, as primeiras médiuns de Kardec foram as filhas de Sr. Baudin, Julie e Caroline, 12 e 14 anos respectivamente.

A primeira reunião na casa da Sra. Roger, assistida por Kardec, foi em maio 1855. Isso tudo é Kardec que narra nas obras póstumas. Essa foi a primeira sessão espírita assistida por Kardec.

Em dezembro de 1855, ele foi a primeira vez em maio, em dezembro de 55, Kardec já estava recebendo comunicações de suposta autoria do seu espírito protetor. Que mais iria se identificar como a verdade, ficando conhecido como Espírito de Verdade.

Morel diz que em Dezembro de 1855 Kardec já recebe comunicações de suposta autoria do seu espírito protetor, aqui já encontramos um ERRO pois como é possível se ler em Obras Póstumas nesse diálogo o que encontramos resume-se no seguinte: Allan Kardec faz perguntas relativas ao seu protetor, se é um parente ou amigo, pergunta se sua mãe o visita…no final do diálogo, faz perguntas relativas a sua pesquisa e se ela seria útil a propagação da verdade e por quais meios. Não há nenhuma menção a missão. Morel continua e diz o seguinte:

Morel – Kardec recebe outras comunicações atribuídas ao Espírito de Verdade em maio e abril de 1856. Nessas três comunicações ele já é tratado como um missionário. Kardec já passa a ser tratado como alguém que estava habilitado para levar adiante a missão que consistia em fundar uma doutrina.

Vejamos outro ERRO cometido por Morel, no trecho acima ele se refere a três comunicações, seriam a de Dezembro de 1855, a de 25 de Março de 1856(não Maio como ele diz) e a de 9 de Abril de 1856. Nessas duas últimas ocorridas em Março e Abril de 1856 não há qualquer menção a MISSÃO alguma, nessas duas sessões o Espírito se identifica como Espírito de Verdade e que o mesmo seria o seu protetor. Quando Morel diz “Nessas três comunicações ele já é tratado como um missionário” a prova de que o que diz é uma inverdade é facilmente constatada pela leitura das três sessões como consta no livro Obras Póstumas, mas Morel continua na sua fala, vejamos:

Morel – mas a primeira mensagem que trata abertamente do assunto é de 30 de  abril de 1856, portanto menos de um ano depois de ele ter assistido a uma sessão espírita pela primeira vez. É interessante notar que que essas três mensagens mencionadas né essas mensagens atribuídas ao Espírito de Verdade foram psicografadas pela Srta Baudin. O Kardec não menciona, ele não especifica qual das senhoritas.

Morel –  as mensagens que se referem a missão de Kardec foram psicografadas pela Srta. Japhet. Quase a totalidade de a primeira edição de o Livro dos Espíritos se deu através das comunicações obtidas pelas Srtas. Baudin e a revisão do livro pelos supostos espíritos da Srta. Japhet.

Outro ERRO na descrição dos fatos segundo a fala de Morel em seu vídeo, a afirmação de que quase a totalidade de a primeira edição de o Livro dos Espíritos foi feita apenas pelas comunicações das Srtas Baudin com revisão somente pelas comunicações da Srta. Japhet é EQUIVOCADA. Allan Kardec fala a respeito dessa revisão de seu material e de que inicialmente os Espíritos que se comunicavam pela Srta. Japhet haviam proposto que a mesma fosse feita somente com eles, na intimidade, longe da percepção de outras pessoas, Kardec rejeita submeter seu trabalho apenas a este círculo, vejamos o que ele diz em Obras Póstumas:

Meu trabalho estava, em grande parte, concluído, e tomava as proporções de um livro, eu, porém, o submetia ao controle de outros espíritos, com o auxílio de diferentes médiuns. Tive a ideia de fazer dele objeto de estudo nas reuniões do Sr. Roustan; ao final de algumas sessões, os espíritos disseram que preferiam revê-lo na intimidade, e determinaram-me para tal efeito, certos dias para trabalhar em particular com a Srta. Japhet, a fim de fazê-lo com mais calma, e também para evitar as indiscrições e os comentários prematuros do público.

Não me contentei com esta verificação; os espíritos mo haviam recomendado. As circunstâncias possibilitando-me a relação com outros médiuns, cada vez que a ocasião se apresentava, aproveitava-me dela para propor algumas das questões que me pareciam mais espinhosas. Foi assim que mais de dez médiuns prestaram sua assistência para este trabalho. Foi da comparação e da fusão de todas estas respostas, coordenadas, classificadas, e muitas vezes remodeladas no silêncio da meditação, que formei a primeira edição de O Livro dos Espíritos que foi publicado em 18 de abril de 1857.

Obviamente a informação acima contradiz o que Morel busca construir na narrativa de seu vídeo, e por isso ele omite essa informação, mas ele comete outros ERROS, vejamos o que ele diz em seguida:

Morel – Eu vou ler aqui uma mensagem, que Kardec considerou como a primeira revelação da sua missão, 30 de Abril de 1856, em casa do Sr. Roustan, médium Japhet, primeira revelação da minha missão, fala Kardec: (a mensagem e a nota são lidas por Morel).

A menção que existe a missão feita na reunião de 30 de Abril foi feita por um Espírito que não se identifica, não há explicação sobre o que exatamente é essa missão, no entanto, parece indicar um sentido reformador.

Nessa comunicação é interessante notar que durante as sessões na casa do Sr. Roustan, Kardec já se propunha a verificação do seu trabalho, que segundo ele mesmo comenta vinha adquirindo corpo e a proporção de uma doutrina, o trabalho já vinha sendo organizado e a intenção de levar a público já existia antes da informação de que haveria uma missão a desempenhar, essas em 30 de abril e em 7 de Maio. É importante notar isso para que não haja confusão no sentido de que Allan Kardec só passou a se interessar pela publicação de Livros a partir da confirmação de que havia uma missão a desempenhar. Morel continua sua fala:

Morel – Outra comunicação sobre a sua missão foi dada alguns dias depois, e eu vou levar essa comunicação também,  em  7 de Maio 1856  (Na casa do Sr. Roustan, médium: Srta. Japhet.) Minha missão.

Kardec faz a pergunta ao suposto espírito de Hanneman que se manifestava através da Srta. Japhet bastante tempo antes de Kardec conhecer o fenômeno das mesas falantes, pergunta Kardec…(Morel lê o diálogo completo).

OBSERVAÇÃO: no diálogo acima não há uma explicação que detalhe o que seria a tal missão apenas a indicação de que corresponde às aspirações íntimas de Allan Kardec.

Morel – No dia 12 de Junho de 1856 através da médium Aline Carlotti, que era filha de uma grande amigo de Kardec, talvez tenha sido o principal responsável por Kardec ter levado adiante suas experiências com o Espiritismo.

Pelo que consta em Obras Póstumas, Kardec não se deixou levar pela empolgação do Sr. Carlotti. Apesar da amizade, Kardec diz que as impressões causadas pelas descrições feitas pelo seu amigo a respeito dos fenômenos não lhe despertaram interesse, justamente por conhecer o temperamento do amigo. A suposição de Morel que o Sr. Carlotti foi o principal responsável ter levado adiante suas experiências não se baseia em nada, pois pelo que podemos ler em Obras Póstumas a coisa é justamente o contrário disso, leia:

“No ano seguinte, estávamos no começo de 1855, encontrei o Sr. Carlotti, um amigo de 25 anos, que me falou desses fenômenos durante quase uma hora com o entusiasmo que consagrava a todas as ideias novas. O Sr. Carlotti era corso, de temperamento ardente e enérgico; eu sempre estimava nele as qualidades que distinguem uma grande e bela alma, porém desconfiava de sua exaltação. Foi o primeiro a me falar da intervenção dos espíritos, e contou-me tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencer, aumentou minhas dúvidas”

OBSERVAÇÃO: entre a sessão citada e lida por Morel a de 12 de Junho e a anterior de 7 de Maio ocorrem mais duas sessões, uma em 12 de Maio e outra em 10 de Junho, essas duas sessões não citadas por Morel não tratam de nada relativo à missão, muito embora a do dia 12 de Maio tivesse sido com o Espírito Verdade, a segunda diz respeito ao andamento de o Livro dos Espíritos.

Morel continua a respeito da sessão do dia 12 de Junho de 1856

Morel – Kardec pergunta ao Espírito de Verdade, pergunta a respeito da sua missão né, da sua missão que lhe havia sido revelado por outros espíritos. O Espírito de Verdade confirma a sua missão, e diz que essa missão só depende dele, Kardec.

Morel – a oração de agradecimento e louvor que Kardec faz em seguida demonstra o quanto ele levou a sério essas comunicações; Kardec apesar de se considerar e ser considerado né hoje em dia um homem grave e movido pela lógica e pelo raciocínio, ele acreditou piamente que ele era um missionário que reencarnou com uma missão delegada pelo próprio jesus.

Morel – eu vou ler a oração que Kardec fez por ocasião dessa revelação do Espírito de Verdade. Fala Kardec(Morel lê a oração completa).

OBSERVAÇÃO: Morel não lê o diálogo da sessão de 12 de Junho, ao lê-la podemos apreciar a postura de Kardec que distoa da imagem que Morel pretende construir. Nesse sentido ele lê apenas a oração pois assim ele evidencia apenas o que é útil para a sua narrativa, criar a imagem de um Kardec crédulo!

Vamos pontuar agora o que seria exatamente o arremate de todas afirmações que Morel tem feito até este momento em seu vídeo.

A sessão que explica o que seria a missão citada pelos outros espíritos se passa em 12 de Junho de 1856, até aqui o que Allan Kardec tem de informação a respeito do Espírito de Verdade é que ele seria o seu protetor e que o mesmo já estaria lhe dando o suporte para o desenvolvimento do seu trabalho, a intenção para a elaboração de um livro com corpo de doutrina já existia antes dessa sessão, talvez por isso o Espírito Verdade indique não bastaria um livro, dois livros etc para cumprir a missão.

Muito embora a crença na reencarnação ser difundida em seu meio, e ainda mais com as pesquisas que vinha realizando juntamente com os Espíritos, pelo diálogo estabelecido durante a sessão de 12 de Junho não há indicação de que Kardec seria um escolhido exclusivo já predefinido inclusive com garantias de total sucesso na empreitada. O que se apreende é que a missão poderia ser por ele aceita, não foi estabelecida nenhuma relação de obrigatoriedade ou predestinação. Além do mais o sucesso da tarefa dependeria dos resultados obtidos, o entendimento de que os seus trabalhos poderiam se enquadrar num aspecto providencial é óbvio se se pensar no impacto que aquele conhecimento investigado possuía tremendo potencial capaz de solavancar o desenvolvimento moral e espiritual do homem, a confirmação da sua verdadeira natureza, a sua relação com o criador, a destinação da humanidade, enfim tudo o que se constituiria os princípios fundamentais da doutrina espírita.

Destaco o que Morel disse:

Morel – Por volta dos 12:35 do vídeo, Morel diz: Kardec acreditou em pouco tempo que o espírito de verdade era o próprio jesus

com base em que Morel diz isso?

Morel – perceba o nível de credulidade do homem, acreditar que o próprio Jesus era o seu espírito protetor e que evidentemente só podia ser ele a lhe delegar essa missão.

A afirmação que Morel é tão leviana que chega a ser patética, demonstro:

Repito, no ano de 1856, Allan Kardec não tinha ainda nenhuma mensagem que lhe desse a entender que o Espírito de Verdade seria o próprio Jesus logo quando afirma isso ele o diz com base em fatos posteriores ao ano de 1856, mas que obviamente Allan Kardec não teria conhecimento naquela data.

A mensagem cuja assinatura foi feita com o nome Jesus só viria a ocorrer em 1860. Aparece publicada no Livro dos Médiuns em 1861, e novamente republicada no Evangelho Segundo o Espiritismo em 1864.

A relação entre o Espírito de verdade e Jesus não podia ser feita até aqui com base no material que está sendo apresentado até o ano de 1856.

O que podemos afirmar é que em 1862, na segunda edição(não na primeira edição de 1861) de o Livro dos Médiuns, segue link, Kardec já tinha material suficiente para relacionar a superioridade de Jesus ao Espírito de Verdade, ou seja, cerca de seis anos depois do diálogo no qual o Espírito de Verdade confirma o que seria a sua missão.

É possível observar isso no item 48 do capítulo 4 do Livro dos Médiuns. Nesse trecho Kardec se refere a Jesus e ao Espírito de Verdade como sendo ambos os mesmos.

Veja, diferente do que é dito por Morel em seu vídeo, a constatação de Jesus era o Espírito de Verdade não se deu nos primeiros diálogos no quais Kardec tem a indicação e a confirmação de sua missão. Somente em 1862 é que temos um texto que demonstra isso; apesar de, no item 48 de o Livro dos Médiuns, ele relacionar Jesus com o Espírito de Verdade, se houvesse por parte de Kardec a intenção de adulterar a assinatura da mensagem já a partir de 1862 ele poderia ter modificado a nota de rodapé feita a respeito da mensagem assinada por Jesus de Nazaré ao invés escreve uma nota a respeito da mensagem, que deixa em aberto a questão da assinatura devido a gravidade do nome Jesus de Nazaré, se Kardec tivesse piamente acreditado que o Espírito de Verdade era Jesus por que ele abriria margem para se interpretar o contrário? Lembre-se essa mensagem foi escrita em 1860.

Se Kardec tivesse desde o primeiro contato com o Espírito de Verdade presumido credulamente que o mesmo era Jesus, ele já poderia ter modificado a assinatura da mensagem de o Livro dos Médiuns assinada por Jesus pois ela foi recebida em 1860.

Se em 1860 ele tivesse chegado a conclusão de que o Espírito de Verdade e Jesus são os mesmos, ainda mais com a mensagem assinada com o nome de Jesus de Nazaré, qual o problema teria nisso?, afinal já se teria passado 4 anos de a confirmação de sua missão por parte do Espírito de Verdade, no entanto, escreve a nota relativa a assinatura da mensagem.

Allan Kardec não sabia naquele ano 1856 que o Espírito de Verdade poderia ser Jesus, não existiam mensagens que indicassem isso. Se em 1862 no item 48 do Livro dos Médiuns ele faz essa associação, com certeza, é por que ao longo desses seis anos, a continuidade e a regularidade das mensagens do Espírito de Verdade deram a entender que seria esse Espírito, um Espírito do mesmo nível de Jesus, ou o mesmo.

Vale ressaltar que o Espírito de Verdade ao longo desses seis anos escreve várias mensagens não somente nos grupos de trabalho de Allan Kardec, mas em outras reuniões, em outras cidades. Morel não entra nesse mérito em seu vídeo, mas há quem pense que o Espírito de Verdade se comunicava apenas para Allan Kardec. Vou relacionar aqui alguns links para mensagens outras do Espírito de Verdade entre o ano de 1856 e 1862 que estão na Revista Espírita.

Conselhos – lidas na sociedade recebidas pelo Sr. Rose


OS OBREIROS DO SENHOR, recebida em CHERBOURG, FEVEREIRO DE 1861 ─ MÉDIUM: SR. ROBIN

Uma telha – SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS ─ MÉDIUM: SRA. C.

Qualquer um que tenha a curiosidade de bater as informações citadas por Morel, poderá ver como vi que há uma intenção clara da sua parte em distorcer os fatos. Nas próximas parte deste trabalho vamos demonstrar outros erros da sua narrativa que se baseia na ideia de Kardec passou a se considerar um missionário delegado pelo próprio Jesus.

Allan Kardec nunca se valeu de sua posição para se apresentar como missionário delegado por Jesus, mas isso é material para os próximos posts.